Sábado e domingo não vi Bian entrar on-line, no MSN, o que era preocupante. Mesmo que ele não quisesse falar comigo, eu entenderia, mas desaparecer desta forma estava estranho. Ele tem os compromissos dele, família, amigos, uma vida real, lá onde ele mora e eu não deveria me espantar com as ausências dele.
Mas era inevitável. A sensação de vazio, de perda, de que não veria mais ele aumentava a cada minuto que se passava. Insegurança é algo que, mesmo você estando segura, ao lado de quem você ama, não se controla. Eu me cobrava muito com ralação a juventude dele, a necessidade que ele tinha de estar entre amigos, pois isto faria falta a ele de uma forma ou de outra.
Ele costumava jogar bola de madrugada, quando o calor aumentava, ou ficava no quintal de casa apenas de shorts... Quando ele me falava o que fazia na minha ausência, ou como estava vestido... Minha mente voava a mil por hora. Ele era uma verdadeira bomba armada, prestes a explodir com minha auto-segurança emocional.
Hoje com a sua ausência, faltava-me o motivo para sorrir, pois ele não sorriria comigo, ele não saberia que o verdadeiro motivo de minha felicidade era apenas ele. Uma dependência enorme, onde tudo o que eu fazia imaginava “o que meu Bian iria pensar disso?” ou “será que Bian aprovaria se eu fizesse isso, sem perguntar a ele antes?”... Era ótimo me sentir assim, importante, ser parte da vida dele, como se ele já pertencesse a mim, porque dono de minha vida, minha alma e meu coração ele já era.
As horas passavam e nenhuma noticia dele, e isso estava acabando com minha paz. Queria ler ele, estar perto dele novamente, poder dizer que o amava muito e que ele era tudo pra mim...
Passavam mil coisas na minha mente, mas nada que pudesse me livrar desse sofrimento. Tinham muitas coisas para me distrair, sair, passear um pouco com meus filhos, praças, parques. Graças à Deus eu morava numa região onde lazer era prioridade. Neste ponto eu adorava morar no interior, pois uma paisagem nunca era igual a outra, cada lugar tinha uma magia a mais para ser recordada, mas agora isso não me fazia a menor diferença, eu não estava afim de comemorar nada.
Uma cachoeira próxima a minha casa era a opção mais favorável devido ao calor que fazia neste dia. Fomos até lá, estive com alguns amigos e meus filhos se divertiram com a água gelada por um bom tempo. Eu não entrei, fiquei observando de longe, debaixo de uma arvore eles jogarem água para cima enquanto afundavam nas corredeiras. Simples se divertir, ser feliz, não se preocupar com nada. Não era o fim do mundo, mas para mim a ausência dele significava isto. Desolação, solidão, impaciência. Convenci as crianças a voltarem para casa com a desculpa que eu precisava descansar para trabalhar a noite, pois era a única coisa que eles respeitavam, meu compromisso com meu trabalho.
Eu estava em casa, meu chuveiro gelado parecia muito mais revigorante do que a cachoeira, e permaneci sobre ele por mais de meia hora. Uma outra pessoa, embora meu rosto no espelho permanecesse o mesmo. Descansada e pronta para mais uma noite de trabalho, saí alguns minutos mais cedo e tive muito tempo para organizar meu armário. Minha vida era toda desorganizada, literalmente falando. Se eu procurasse um elefante nas minhas coisas pessoais, eu só o encontraria depois de mais ou menos uns três meses de busca incessante.
Talvez esta fosse a única diversão que me fazia realmente bem. Estar trabalhando, sendo útil a mim mesma, depois de mais de 19 anos de casada me parecia algo como um troféu, que eu dizia com a boca transbordando de felicidade. Gostava desta palavra. “Estou trabalhando...”. O que para muitos soaria como um mal necessário, para mim soava como uma diversão à parte, uma extensão de meu dia, como se eu descansasse durante o dia para me divertir a noite. Isso era um fato. Eu me divertia muito, aprontava muitas artes e estava constantemente me movimentando, evitando assim, pensar em outras coisas.
Mas tinham alguns minutos que eu precisava parar para descansar, e era aí que a falta dele era sentida, o celular não tocava, eu não estava na net para saber se tinha algum recado para mim, algo que me fizesse ver que ele estava bem. Melhor não parar. Precisava continuar ocupando minha mente até as 05:30 da manhã. Fui à procura de outra vitima para me divertir. Na maioria das vezes meus companheiros de trabalho sabiam que não conseguiriam descansar comigo por perto, e já me esperavam de mãos estendidas, em sinal de rendição. Eu era malvada, e isso me fazia rir, nada de silencio, nada de descanso. Só parava quando minha cabeça começava a doer, talvez por falta da oxigenação comum, porque às vezes eu esquecia de respirar, de tão elétrica que eu era.
Uma pilha alcalina me definiria bem, mas eu não era um robô. Sentia quando minhas energias já haviam se esgotado ao máximo, ia perdendo o tom de voz, o sorriso já era mais escasso, apenas um leve levantar de lábios, ou um olhar divertido. Era justamente nesta parte da madrugada que nossa equipe realmente me amava. Uma bela mulher somente é notada do silencio que ela pode produzir. Às favas com a beleza, eu era o que era e isso me bastava. Não trabalhava como modelo, portanto, que se acostumassem comigo assim mesmo. Minha pilha já estava marcando o ponto vermelho, totalmente descarregado.