Talvez esta tivesse sido a pior noite da minha vida. Por mais que eu tivese certeza do quão duro seria, nunca poderia imaginar como seria o desfecho disso tudo. Bandido estava livre para viver a vida dele, eu e Fabiano também.
Só que ao contrario de estarmos felizes, só nos restou à dor. Não sabia o que passava pela mente dele agora, ele estava indecifrável. Sofrendo seria a palavra certa. Eu mais uma vez o tinha ferido, ele estava muito infeliz em ver como tudo tinha terminado. E não falava por medo de me machucar.
- Vida me responde, por favor...
- Estou aqui.
- ... Preciso tanto de você agora... Me responde, amor... Você ainda me ama?
- Sim, sempre.
- É tudo o que mais preciso agora, a única coisa que me importa. Bian...
- Oi.
- Você quer sair?
- Não mesmo. Não vou dar esta vitória a ele.
- E vai ficar me culpando, é isso?
- Não. Estou apenas lendo você na sala.
- Eu não estou escrevendo nada a ninguém, amor, nada mesmo. Te juro.
- Eu também não. Apenas estou vendo pessoas estranhas lá, e está tudo muito quieto demais.
- Foram onde ele estava e colaram toda nossa conversa no aberto. Não estou bem, quero sair, mas não posso te deixar na sala. Você também não está bem, sinto isso, a forma como você está escrevendo.
- O que falaram a ele.
- Toda nossa conversa na sala. E ele... Bom... Acho que ele já disse tudo o que tinha a me dizer.
- Quem tinha que falar era você.
(Silêncio)
- Se você quiser... Posso ir embora de sua vida agora, Bian...
- Não! Pode parar com isso. É o que você quer, então? Voltar pra ele? Me diz!
- Não, eu quero você, droga!!! Pensa que suportei ele me xingar aqui à toa? Porque não te amo?
- Então para de besteiras.
Em cada palavra dele eu sentia a dor, a mágoa e a tristeza, e o que me doía mais era saber que a culpa era unicamente minha. Eu o havia decepcionado, talvez ele não quisesse levar isto mais adiante. Como eu suportaria isso? Como entender que a dor dele só ele sentia, e que era eu quem tinha provocado tamanho sofrimento? Eu tinha jurado a ele amor eterno, e veja como ele estava, arrazado. Nunca, em toda minha vida, eu me perdoaria por ter feito ele passar por isso, por ver ele assim e saber que a culpa foi minha. Homens não choram, mas a magoa é muito pior de você sentir. Ela te destrói.
- Você quer conversar, amor? Desabafar?
- Agora não. Melhor não. E você, como se sente, mal?
- Sim... Mas por você.
- Eu estou bem. Pelo menos agora eu sei que você é minha por inteira, nada de te dividir com mais ninguém.
- Agora estou aqui que mal consigo enxergar estas malditas teclas. Eu te disse que daria minha vida a você é o que estou fazendo agora.
- Eu não quero ver você triste assim, te proíbo. E para de chorar senão eu choro tembém e vou embora. Querendo ou não esta pessoa nos ajudou e você sabe disso.
- Não vou discutir com você. Buscar ele não foi legal.
- Não foi mesmo.
- Você me assumiu publicamente na sala, em aberto, disse que me amava para todos lerem...
- Sim, e faço de novo se for preciso.
- Faz idéia do que aquilo representou pra mim?
- Não, me fala você, amor...
Dês da hora em que a ex dele saiu da sala e da hora em que o Bandido entrou, esta tinha sido a primeira vez que ele tinha me chamado de amor, em mais ou menos 3 horas de total angustia e sofrimento. Eu tinha que me agarrar àquela pequena palavrinha, pois ela era minha bóia de salvação, e tudo o que eu mais necessitava neste momento.
- Eu ainda estava maravilhada com tudo o que li de você na sala, amor... Eu lia, relia... Buscava algo que pudesse igualar ao que eu sentia por voce, que fosse próximo de tudo o que eu tinha lido, mas as palavras não vinham... Eu queria dizer algo além de amor, algo muito maior que “amo voce”...
Não consegui terminar a frase, chorava demais, não conseguia parar de chorar. Estava fraca, cansada, esgotada. Puxei o fio do computador da tomada e fui para o banho. Lá eu poderia chora a vontade, deixar minha dor ir com minhas lagrimas pelo ralo, que ninguém iria notar. Ele não me veria chorar, nem saberia dessa minha crise de histeria.
Fiquei puxando na memória tudo o que vivemos até então, o amor que pudemos compartilhar, a vida que um sonhava dar ao outro. Era tudo tão grande, tão vasto que eu com certeza tinha sonhado ou fantasiado demais.
Amanhã seria outro dia, e eu seria arremessada à realidade, à vida dos normais, como ele me falava. E confesso que tinha medo de acordar, de ver que tudo tinha acabado, que eu já tinha sido feliz o suficiente e que agora estaria de volta a minha vidinha de antes. Sem recadinhos no MSN, no orkut, no uolk, nada... Nada mais me restaria. Tinha acabado tudo.
Demorei para dormir. Foi um sono sem sonhos, vazio, em preto e branco. Eu apenas estava exausta, e necessitava fechar os olhos para aplacar um pouco a dor do corpo, do físico. Minha alma não mais existia, meu coração já não doía, pois ele já não batia mais dentro do peito.