Eu ligava todas as noites para minha cunhada. Era um hábito nosso, quando uma não ligava, a outra ligava para saber noticias, e ficávamos no telefone falando sobre o que fizemos durante o dia, como tinha sido meu inicio de noite no trabalho e, quando ela entrava na NET, ela me dizia como estavam às coisas por lá, se havia alguma novidade que eu deveria saber para quando eu entrasse no dia seguinte.
Era um costume nosso, meu e dela, coisa de meninas. Mesmo ela estando separada de meu irmão, tínhamos uma afinidade ímpar, cumplicidade mesmo, algo que não se explica. Às vezes tínhamos nossas diferenças, mas logo resolvíamos, pois estávamos ligadas sempre, na mesma sintonia. Nem sempre falávamos a mesma língua, e nossas mentes se desencontravam. Ela era páreo duro e eu adorava aquela coisa toda de ser a protegida dela. Se ela soubesse algo que fosse me ferir, ela não dizia, ou procurava contornar a situação de modo que quando viesse ao meu ouvido já não fosse tão duro assim de digerir.
Falávamos às vezes até sem motivos, e isso nos fazia rir por longas horas.
Quando eu ligava e ela estava no Chat, eu conversava com as meninas através dela. Ela dava os recados e me dizia o que elas falavam, em resposta. Passávamos à noite desta forma, e era um meio de nos divertir mesmo à distancia.
Ultimamente eu andava meio aérea, meio completa, nada me abalava ou me irritava. Drika dizia que adorava quando eu estava apaixonada porque eu ficava mais maleável, mais compreensiva e menos agressiva. Ela devia esta minha mudança de humor ao Bandido, mas eu não pensava da mesma forma que ela. Não havia outro jeito senão dizer a ela o real motivo de minha paz.
Disse a ela que Fabiano preenchia meu coração de uma forma que eu não conseguia mais me imaginar sem ele, sem o carinho dele. Desabafei a ela o que ia no meu coração, os temores que eu tinha com relação a minha decisão de terminar com o Bandido, pois eu não pretendia magoa-lo e ela me disse uma coisa que me fez pensar.
“ Dida, de qualquer jeito alguém vai sofrer, seja ele, seja Fabiano, seja você, e isso você sabe muito bem. Gosto dele, mas se for para te ver feliz, me calo, não direi nada a você. Mas saiba que eu vou estar aqui sempre, seja para ouvir seu sorriso, ou te fazer parar de chorar. Vai ser difícil e sabemos que você não precisa de mais uma pessoa para ficar te atormentando.”
Às vezes tinha muito ódio da forma como ela via minha vida, mas ela sempre estava certa. Questão de tempo e eu via o que ela falava se tornar realidade. Mas não desta vez. Eu estava disposta a ser a única a sofrer, se preciso fosse, mas para ter Bian para mim. Se isto fosse uma certeza eu estaria disposta a pagar o sacrifício para ter ele ao meu lado.
Ela já estava a um bom tempo na sala quando Bian entrou. Bandido já estava lá a algum tempo, muito falante e alegre como sempre quando estava na minha ausência. Drika me dizia tudo o que se passava com todos na sala, e eu aproveitei para perguntar a ela se Bandido estava conversando na sala com alguém. Era uma pergunta meio estranha, mas ela me respondeu que sim, e muito.
Pronto, havia matado a charada numa simples resposta. Disse a ela que quando ele estava comigo as conversas dele eram poucas, até mesmo comigo, e isto não era uma boa forma de conduzir uma relação. Ela comentou com Bian sobre o que eu havia dito e fez com que ele visse como me sentia. Pedi a ela para dizer a Bian que eu o amava. Ele enviou apenas um sorrisinho a ela em resposta. Para mim, aquele gesto significava muito mais do que uma simples declaração de amor.
No dia seguinte, nosso horário, eu estava lá, com o MSN ligado esperando ele aparecer. Mal entrou e já veio a mim todo alegre.
- Amorrrrrrrrrrrr!!!
- Oi vida minha.
- Saudades, saudades, saudades...
- Sinto tanto sua falta, more...
- Eu também, amor. Deixa te falar, a Drika ontem foi muito legal comigo, sabia? Adorei o que pediu a ela para me dizer.
- Sobre o que, amor meu. Que eu amo você? Hum... É para você não esquecer disso jamais.
- E você não se esqueça que eu te amo muito, vida minha. Queria tanto estar com você agora, amor.
- E eu aqui, morta de saudades sua... Seu peste, custava você me falar antes que me amava??? Sufocada, todo dia sem coragem, e quando a coragem chegava eu amarelava.
- Mas eu te amo, te quero só pra mim. Vem cá, querida, deixa te dar um beijo.
- Estou aqui do seu ladinho, olha, amor meu.
Ele colocou uma foto onde ele estava sentado na soleira da porta, cabeça baixa, nos joelhos, todo desolado, uma foto linda, mas triste, captava uma tristeza que eu não queria ver nunca, nem numa simples foto.
- ß Olha como eu fico, sem você...
- Ô dózinha do meu bebê lindo... Vem aqui com sua more, vem, deixa fazer carinho, abraçar bem apertado, fazer carinho nas suas costas lindas, te beijar a boca, bem gostoso, e dizer que te amo, vem...
- Hummm...
- Bian, vem aqui conversar com sua more, vem. Estou aqui pensando uma coisa.
- Em quê, amor.
- Drika. O que ela te disse que ta assustou tanto assim, vida?
- Ela me disse que você havia pedido a ela para dizer que estava com saudades e que me amava muito. Mas é estranho, sabia?
- Hum... Porque, vida?
- Porque é estranho, amor, ver ela escrever por você, para mim, não sei. Eu gosto de falar o que sinto a você e não a ela, querida.
- Como assim?
- Como vou expressar meus sentimentos a ela se é você que eu amo?
- Eu pedi a ela para que você soubesse que esteve comigo, em meus pensamentos a noite toda. Porque hoje você é minha vida, tudo o que eu tenho, apesar dessa... Situação louca.
- Eu te amo, querida, mesmo com essa situação louca.
Quando você tem tudo o que precisa, você não teme mais o futuro, pois somente o presente te interessa. Não foi planejando o futuro que eu fui feliz, mas sim em ter algo que eu sonhei no passado. Não, não iria planejar nada, iria viver este momento único que eu estava tendo ao lado de Fabiano. Enquanto ele estivesse me retribuindo à altura, eu estaria ao lado dele.
Me fazia bem, e eu sentia que fazia bem a ele também, pois ele estava cada dia mais divertido, mais brincalhão, mais menino... Eu amava este lado dele. Esta capacidade que ele tinha de ser homem, de ser adulto, sem deixar este lado menino, que encantava muitas garotas no Chat. Elas iam pra cima dele, mesmo comigo na sala e isso me fazia rir muito, pois não demorava para mim ler algo do tipo: “Pergunte a minha Bandida, se ela deixar, tudo bem...”
Ele não precisava ser rude para dizer o que pensava, e sempre colocava “nós” em primeiro plano, em evidência. Sempre meu, assim como eu deixava bem claro que eu era somente dele. Tínhamos esta certeza. Que nada poderia nos separar a menos que nós deixássemos. Eu não pretendia deixa-lo e tão pouco ele a mim. Éramos um apenas, nossos pensamentos se completavam.
Sabíamos sempre o que esperar um do outro. Claro, nem sempre tudo eram flores, mas nós dois dávamos esta chance a nós mesmos, de um confiar no outro, de saber esperar o momento exato para o outro vir nos contar o que havia acontecido ou feito. Não temia mais nada, já poderia morrer hoje porque eu teria passado tudo o que uma pessoa merecia ter vivido.
O meu amor por ele me dizia que eu estaria segura por enquanto o respeitasse e o fizesse feliz a meu lado. Era essa minha prioridade, tornar ele o homem mais feliz do mundo, custasse o que custasse. Ele era meu sonho sendo realizado a cada minuto vivido.
Já não necessitava mais de dormir para sonhar. Era tudo muito perfeito, muito único de ser vivido. Eu ainda guardava na consciência a necessidade de acordar uma hora ou outra, mas por enquanto, tudo o que eu desejava era puxar um pouco mais o edredom até a cabeça e dormir mais um pouco.