Bian chegou por volta das 20:30 da noite. Lindo como sempre foi. Minha angustia, apreensão e medo caíram por terra. Toda aquela dor que eu havia sentido no dia anterior tinha se dissipado como uma nuvem ao vento. Visível, mas não aterrorizante como tinha sido no dia anterior.
- Saudades mil, vida minha. Me desculpe pelo sumiço, minha net está péssima e não consegui entrar para estar aqui com você.
- Estou aqui mortinha de saudades, coração vazio, sem você aqui, more.
- Isso é muito bom, me faz ter mais vontade de retornar, sempre, querida.
- ... Eu te dei a Kitti...
- Kitti? Quem é essa?
- É... A Nina do Bian, a alma da Bandida, mas toda do Fabiano_sp, vida.
(Silêncio)
- Ela é você, com outro Nick. Eu gostaria muito que fosse com seu Nick, a minha Bandida, mas se é assim que tem que ser, tudo bem...
Então era isso. Eu não sabia como me expressar sem magoá-lo e veja o que fiz. Quando tudo o que ele mais queria era estar com a mulher dos sonhos dele, eu vinha com outro nome e o ofendia, tirava dele o que ele mais amava. Não era apenas um nome em especial, era um símbolo, uma característica nossa, ele não havia mudado em nada para estar comigo, e eu estava me camuflando para poder estar com ele.
“Você ainda diz que o ama... Bela forma de demonstrar isso, não acha? Ferindo ele, dizendo a ele que vai se esconder noutro Nick para estar com ele nas salas de bate papo. Só falta você agora querer fazer um MSN e isolar ele dos seus contatos, e dizer que é um presente também...” ela estava certa, minha consciência era cruel, mas certa. Poderia encontrar mil desculpas para justificar um outro nick, mas nenhuma delas seria suficientenente verdadeira. Eu teria apenas que resolver esta questão o quanto antes, para poder estar bem com ele e principalmente sem precisar me esconder no privativo dele ou ele no meu. Gostaria muito de poder estar com ele como ele desejava, mas por enquanto eu não poderia.
- A Bandida é toda sua, só pensei que seria um bonito presente a te dar, amor. E seria apenas por alguns dias apenas, até eu poder estar contigo sem ninguém nos crucificando por nossa decisão.
“Cale a boca, já o magoou demais.”
- Querida, ta tudo bem, não fique brava. Eu te amo demais, menina.
- Eu amo você, Bian, com net ou sem net, com Kitti ou sem Kitti, amo você todo. Agora estou até com medo de falar a você sobre a poesia que postei no nosso blog, vida...
- Não amor, claro que não, não é isso. Eu te amo do jeito que você é, com tudo ou nada, amo apenas, minha menina. Qual é o blog, amor meu?
Foi quando eu percebi que ele ainda não sabia do blog. Talvez desta vez eu acertasse. Pelo menos uma vez nesta noite, entre tantos erros que cometi. O blog já estava no ar a um bom tempo, mas cada poesia colocada lá demonstrava uma fase de minha vida. Poesias alegres, apaixonada, sutis, sexys, e até mesmo depressivas, por que não? Não somos belas 24 horas por dia, temos nossos altos e baixos durante este tempo, e em uma ou outra ocasião estamos sujeitos a sofrer decepções.
Mas neste caso era algo que eu havia postado com o coração, que significava muito para mim, assim como eu gostaria que fosse para ele. Quando pensava nele, pensava com o coração e era isso que eu precisava que ele sentisse, que era muito amado e muito importante na minha vida. Passei o endereço eletrônico a ele e esperei que ele comentasse, se tinha gostado ou não.
- Sedu¢åø & Magia (https://eternamentebandida.zip.net)
- Espera, querida, vou ver.
Longos 5 minutos se passaram. Ele devia estar travado, pois não era de me deixar assim, quieta. Suava frio aqui, mas não queria falar nada, queria que ele digitasse a primeira palavra. Já tinha metido os pés pelas mãos com a Kitti, e agora estava curiosa demais com o que ele pudesse dizer sobre o blog também.
- Sua net travou amor?
- Abri seu blog, estava lendo ele.
(Silêncio)
Bom, já era um bom começo. Não houve criticas, nem comentários e seria melhor assim, pois, por mais que eu esperava ser perfeita, não estaria sempre correta. Sabia dos meus defeitos, mas não sabia se aceitaria criticas vindas dele tão bem assim.
Eu sempre fui critica, me criticava em tudo, me auto-corrigia demais e exigia muito de mim mesma, e às vezes sentia que passava dos limites. Era quando eu parava de escrever no blog e ficava no Chat apenas, com minhas amigas, para dar um tempo para minha cabeça. Não adiantava este silencio... Eu tinha que saber o que ele tinha pensado sobre o blog e o que eu havia escrito para ele.
- Clica na foto, vida, vai tocar sua musica...
- É tudo muito lindo, amor. Você é demais, demais mesmo.
- Você gostou?
- Como não gostar, é tudo muito lindo amor. Até a musica, linda igual você. Ninguém é igual a você, e é por isso que te quero tanto. Sinto você, seu carinho por mim em tudo o que você faz. E me apaixono cada dia mais por você, minha menina.
Ele sentiu a tensão que vinha da minha insegurança, pois logo resolveu mudar de estratégia. Havia algumas fotos que eu ainda não tinha visto, e ele tirava fotos novas constantemente para me agradar. Eu sempre sentia prazer quando ele desfilava suas fotos para mim, me sentia ao lado dele, folheando um álbum que faria parte do meu futuro agora. Cada uma parecia ter uma historia em especial. Ele tinha uma foto de óculos que eu não tinha visto ainda. Parecia muito mais velho. Meu menino bem mais maduro.
- Ai que lindo meu amor de óculos! Delicia de homem, todo meu.
- Nesta foto eu estou feio, amor.
- Se nesta você está feio, eu estou frita. Você deve dar muito trabalho na rua, amor. No shopping, então? Vou ter que andar com aqueles bastões de descarga elétrica para as piriguetis de plantão. Mato elas na unha, feito piolho.
- Sei, sei...
- É verdade, bebê, mato todas elas.
- Não é assim amor, sou todo seu. Sabe por quê? Porque pirigueti nenhuma seria igual a você, linda. E eu sei o que quero. Te amo tanto que nem sei explicar.
- Eu quase morro de ciúmes quando vejo as meninas rondando você.
Ele sabia que isto era verdade, e logo encontrou o que me distrair.
- Amor, olha esta foto. Cara de bala.
- Hum... Ainda não apareceu aqui. E quando aparecer vou lamber ela todinha. Nossa! Agora morri de vez. Cara de bala nada, morder você todo, vem aqui pra você ver só.
- Ai amor! Essa doeu...
(Risos)
Se existisse outra forma de ser feliz eu dispensaria com prazer, pois já era muito feliz ao lado dele. Não tínhamos contratempos, nem discussões. Ele se encarregava de me fazer feliz, nas mínimas atitudes, por menores que fossem. Fazia as coisas se tornarem simples para que eu entendesse e, mesmo assim, eu muitas vezes perdia a linha de raciocínio lógico, mesmo com a paciência com que ele me tratava.
Eu não era fácil de decifrar, concordo. Meu manual devia estar em latim, aramaico ou algo do gênero, pois nem eu mesma conseguia me entender sozinha. Podia deixar uma gota cair e fazer dela uma tempestade, que ele não se abalava. Só que eu tinha que pensar um pouco mais nas minhas atitudes, pois poderia chegar logo o dia em que ele não seria tão paciente assim comigo. Mas como mudar? Como ser melhor, por ele? Se realmente o amava de verdade, como eu sentia que o amava, teria que mudar. E o quanto antes melhor.
Era muito fácil ser feliz, bastava acreditar que eu merecia e eu seria. Ele simplesmente me deixava resolver minha vida, não mudava nada em mim, mas não abria mão de ter meu amor e de saber que o amor dele já fazia parte dos meus dias e noites. Estava constantemente nas minhas decisões, nas pequenas coisas que eu fazia no meu dia-a-dia. Tudo o que tinha que ser decidido, eu pensava nele antes, analizava, e conforme meu coração respondia, fazia. Chamava isso de intuição, embora não fosse. Era apenas uma forma de imaginar ele ao meu lado sempre.